domingo, 4 de janeiro de 2009

Duas Faces da mesma moeda. Entre o Caveirão e o Narcotráfico

Por Henrique Monte, 09.10.2007

Não foi a toa que não vi ainda o tão falado “Tropa de Elite”, primeiro porque soube que existem versões não acabadas, cortes mal feitos, etc...
Outro motivo é porque gosto de ver as mais diversas reações dos que vêem este tipo de filme, para depois assisti-lo, impregnado das impressões e sentimentos, do que cada um disse ou sentiu sobre o filme.
Interessante é que o filme trata da tropa de “elite”, neste caso o nome elite oriundo do francês ”élite” deveria significar o que há de melhor numa sociedade ou num grupo, estando assim carregado de subjetividade.
Para uns, realmente, o melhor que a polícia deveria fazer por nós, seria impor à periferia das cidades - recheada de jovens sem acesso a educação, saúde, emprego, perspectiva alguma e com um esperto batendo a sua porta, oferecendo trinta moedas para levá-lo ao narcotráfico – a morte, o espancamento, a humilhação.
O Dinheiro do narcotráfico, para estes jovens, é o Ouro de Tolo, é a moeda que ele acha que vai comprar os tênis, celulares, armas, games, roupas e outras coisas, jogadas a sua cara todo dia, e que suas vidas comuns jamais vai lhes oferecer. Assim estes jovens caem nas mãos dos gerenciadores do pó, e posteriormente nas garras dos capitães Nascimento.
Por outro lado a palavra “Elite” também significa “A Flor”, mas esta flor tem bala e cacetete que dói, e dói muito. Para estes que sofrem a pressão do narcotráfico e das balas da Polícia da Elite, o filme, que eu ainda não vi, pode traduzir o abuso revelado, a arbitrariedade escarrada, e a lembrança da dor e cicatrizes escarnecidas. Para estes o “Capitão Nascimento” é símbolo de medo, covardia e revolta. E não tem nada de Flor.
Destaque para a classe média, que tão clamorosa pelo cumprimento das leis não se indigna com o fato do personagem ser um fora da lei, ou agir sem legitimidade, porém com a concessão do Estado. Pouco importa se o personagem viola o Código Penal todas as vezes que entra na viatura para fazer uma ronda? Se ele desce com um fuzil na mão, se ele derruba uma porta, se ele ameaça empalar o suspeito? Afinal na favela não se pode atuar de outro jeito?!? O mais importante é que ele vai lá e mata os bandidos. Lá mesmo na favela, longe do asfalto, longe das nossas vistas. Nascimento e os outros policiais do longa existem porque na sociedade, a ideologia dominante paira sobre a classe média, e estes se sentem um pouco eles também.
Para o “status quo” burguês não tem nada melhor do que este ciclo. Você tem a acumulação desde o contrabando e venda de armas, o próprio tráfico, passando pelo descarte de vidas que “não interessam” à sociedade, são peças facilmente substituídas. E com um detalhe cruel, esta situação toda operada por iguais, sim porque a perversão covarde da burguesia também está no fato de arregimentar pobres para atuar contra seus irmãos.
Mas esquecem estes que na periferia das cidades gente de carne e osso, organiza-se, rebela-se e subverte seja a ordem do narcotráfico seja a ordem da burguesia. Anchos de suas verdades e vontades políticas estão combatendo os Nascimentos do Estado e do Narcotráfico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro José Leonel.
Parabéns pelo texto. Também não vi o filme, nem pretendo vê-lo. Pelos comentários que ouvi, já sei o que me espera. Fico, então, com os noticiários.

José Carlos